Vagando em versos

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Ela nem liga pros padrões


Bordados

Costure a vida
Carinhosamente, com mãos de afeto
Junte os lados esgarçados e sofridos
Dobrando as pontas gastas
Expondo o lado novo.
Dói o furo no dedo
Feito com a agulha da costura.
Dói também a alma apertada no corpo velho.
Borde o tecido velho
Com linhas coloridas,
Com desenhos bonitos.
E sinta o cheiro novo
Da vida que brota,
Suplantando a dor do furo
Que sangrava, sem manchar
O tecido.

Vera Castro

Amor-fati [amor ao destino]


Quero 
cada vez mais aprender a ver como belo 
aquilo que é necessário nas coisas
Amor-fati [amor ao destino]: 
seja este, doravante, o meu amor! 
Não quero fazer guerra ao que é feio. 
Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. 
Que minha única negação seja desviar o olhar! 
E, tudo somado e em suma: 
quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!

Friedrich Nietzsche

Eros e Psique



Conta a lenda que dormia  
Uma Princesa encantada  
A quem só despertaria  
Um Infante, que viria  
De além do muro da estrada.  


Ele tinha que, tentado,  
Vencer o mal e o bem,  
Antes que, já libertado,  
Deixasse o caminho errado  
Por o que à Princesa vem.  


A Princesa Adormecida,  
Se espera, dormindo espera,  
Sonha em morte a sua vida,  
E orna-lhe a fronte esquecida,  
Verde, uma grinalda de hera.  


Longe o Infante, esforçado,  
Sem saber que intuito tem,  
Rompe o caminho fadado,  
Ele dela é ignorado,  
Ela para ele é ninguém.  


Mas cada um cumpre o Destino  
Ela dormindo encantada,  
Ele buscando-a sem tino  
Pelo processo divino  
Que faz existir a estrada.  


E, se bem que seja obscuro  
Tudo pela estrada fora,  
E falso, ele vem seguro,  
E vencendo estrada e muro,  
Chega onde em sono ela mora,  


E, inda tonto do que houvera,  
À cabeça, em maresia,  
Ergue a mão, e encontra hera,  
E vê que ele mesmo era  
A Princesa que dormia. 

Fernando Pessoa

domingo, 30 de julho de 2017

A Arte

A arte desafia o olhar. 
Muitas vezes
ela se refugia em zonas de silêncio
à espera da contemplação solitária.

Gaston Bachelard

Canta Coração


Canta, canta passarinho, 
canta, canta miudinho
Na palma da minha mão
Quero ver você voando, 
quero ouvir você cantando
Quero paz no coração


Moça Bonita




Moça bonita, seu olho brilha
Qual estrela matutina
Eu também não sei se é
Imagina minha sina
É o brilho puro da fé
Ou é só brilho feminino
Ou é só brilho de mulher

Alceu Valença, Geraldo Azevedo

Voa...


Deixa que meu olhar te persiga...
Deixa que minha alma te encontre...
Deixa que as tuas asas me ensinem,
A força com que enfrentas a tempestade,
A paz com que deslizas 
sobre a espuma do mar...
e deixa...
Deixa-te voar...
Voa ...
Voa bem alto...
Voa...
Voa até onde ninguém te alcance...
Voa até onde ninguém te prenda...
Voa até onde só tu sabes...
Voa...
Voa bem alto...
Voa...
E é nesse teu voar que me inspiro...
Nessas asas que me solto...
Nessa força que me prendo...
Nessa ousadia que me rendo...
Voa...
Voa bem alto...
Voa...
E me leva com você.


Pablo Neruda

Dois mundos


Levo em meu mundo que floresce
todos os mundos que fracassaram.

Flor de Lótus



No dia em que a flor de lótus desabrochou.
A minha mente vagava, 
e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia 
e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, 
uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho 
sentindo o doce rastro
de um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura 
fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão,
procurando completar-se.

Eu não sabia então 
que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, 
e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado 
no fundo do meu coração

sábado, 29 de julho de 2017

Existem


Existem muitos motivos
para não se amar uma pessoa,
mas apenas um para amá-la.


Allan Kardec

Vem cá me ajudar


“A mente é um fogo a ser aceso, não um vaso a preencher.” ― Plutarco

O amor


Anônimo

Era Pra Ser


Acreditar



Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá no futuro
 é repetir o que fizemos ontem e hoje. 
Mas, se prestarmos atenção, 
vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro. 
Cada manhã traz uma benção escondida; 
uma benção que só serve para esse dia 
e que não se pode guardar nem desaproveitar.

Se não usamos este milagre hoje, ele vai se perder.
Este milagre está nos detalhes do cotidiano; 
é preciso viver cada minuto porque ali 
encontramos a saída de nossas confusões, 
a alegria de nossos bons momentos, 
a pista correta para a decisão que tomaremos.
Nunca podemos deixar que cada dia 
pareça igual ao anterior porque
 todos os dias são diferentes, 
porque estamos em constante processo de mudança.

Delicadeza

Tocar
na
 dor
 do
 outro
exige
 delicadeza

Anônimo

Como aprender a amar bonito

     

     Ter razão é um perigo: em geral, enfeia um amor
     pois é invocado com justiça, mas na hora errada. 
     Amar bonito é saber a hora de ter razão. 
     Ponha a mão na consciência. 
     Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito? 
     De que está tirando do gesto, da ação, da reação, 
     do olhar, da saudade, da alegria do encontro, 
     da dor do desencontro a maior beleza possível? 
     Talvez não. 
     Cheio ou cheia de razões, você separa do 
     amor apenas aquilo que é exigido por suas 
     partes necessitadas, quando talvez dele 
     devesse pouco esperar, para valorizar 
     melhor tudo de bom que de vez em quando 
     ele pode trazer. 
 
     Quem espera mais do que isso sofre e, sofrendo, 
     deixa de amar bonito. 
     Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança. 
     E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
 
     Não tema o romantismo. 
     Derrube as cercas da opinião alheia. 
     Faça coroas de margaridas e enfeite a 
     cabeça de quem você ama. 
     Saia cantando e olhe alegre. 
     Recomenda-se: encabulamentos, ser pego em
     flagrante gostando, não se cansar de olhar e olhar, 
     não atrapalhar a convivência com teorizações, adiar
     sempre -- se possível com beijos -- 'aquela 
     conversa importante que precisamos ter', arquivar, se 
     possível, as reclamações pela pouca atenção
     recebida. 
      
     Não teorize sobre o amor, ame. 
     Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.
 
     Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, 
     como: a sinceridade, abrir o coração, contar a 
     verdade do tamanho do amor que sente; não dar
     certo e depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito).
     Jogue por alto todas as jogadas, estratagemas, 
     golpes, espertezas, atitudes sabiamente eficazes (não
     é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de 
     sua emoção e carência, exatamente aquele você que a 
     vida impede de ser. 

     Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. 
     Falando besteiras, mas criando sempre.
     Gaguejando flores. 
     Sentindo o coração bater como no tempo de Natal infantil. 
     Revivendo os caminhos que intuiu em criança. 
     Sem medo de dizer eu quero, eu estou com vontade. 
     Deixe o seu amor ser a mais verdadeira expressão 
     de tudo que você é.
 
     Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. 
     Não se preocupe mais com ele e suas definições. 
     Cuide agora da forma. 
     Cuide da voz. 
     Cuide da fala. 
     Cuide do cuidado. 
     Cuide de você. 

     Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor 
     e só assim poder começar a tentar fazer o outro
     feliz.

Artur da Távola

O amor



O amor
 – em todas suas formas – 
é crucial para os seres humanos 
e uma das coisas que fazem com que valha 
a pena existir.
 Com ele é mais fácil enfrentar a incerteza, 
a fragilidade e a imprevisibilidade da existência


sexta-feira, 28 de julho de 2017

Dedicado à Você




No silêncio, na paz, no adormecer do ego

ouvem-se as cascatas de água livre a correr

o perfume das rosas semeadas 

pelo encontro das energias das almas, 

torna os cheiros da terra mais intensos e doces

nessa doçura que se pressente

a cada respirar do seu amor...

A borboleta voa livre 

e se encontra a cada ternura sua

As palavras sobram...

Emoções


E aqui estou embalado nessa doçura 
que nos comove a alma. 
Levo a mão direita ao peito 
e sinto o seu rosto a adormecer 
numa quietude suave e pacifica. 
Corro os dedos pelos seus cabelos 
e deixo-me embalar nos seus olhos 
rasgados de carícias. 

Ouço neste momento de agora 
a musica de duas almas numa só...
Sinto a poesia vibrar 
e as palavras ganham a força devida, 
para que no teu momento de agora 
as recebas em suaves trinados 
de alegria infantil e de comunhão. 
Silenciosamente te amo..

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Afeição




O que as grandes e puras afeições
 têm de bom 
é que depois da felicidade 
de as ter sentido,
 resta ainda a felicidade 
de recordá-las.

Alexandre Dumas (filho)

Sensibilidade


Nenhuma época transmite a outra
a sua sensibilidade
transmite-lhe apenas
a inteligência que teve
dessa sensibilidade.
Pela emoção somos nós
pela inteligência somos alheios.
A inteligência dispersa-nos
por isso é através do que nos dispersa
que nos sobrevivemos.
Cada época entrega às seguintes
apenas aquilo que não foi.

Álvaro de Campos

Poesia


A história provo
a capacidade demolidora 
da poesia e nela 
me refugio 
incondicionalmente.


Pablo Neruda

A Thousand Years





Mudar o mundo é mudar um mundo de cada vez.

Christina Perri - Pavane / Cello Cover

Uma criatura



Sei de uma criatura antiga e formidável
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntamente os vales e as montanhas
E no mar, que se rasga, à maneira do abismo
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.

Traz impresso na fronte o obscuro despotismo
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso
Parece uma expansão de amor e egoísmo.

Friamente contempla o desespero e o gozo
Gosta do colibri, como gosta do verme
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.

Para ela o chacal é, como a rola, inerme
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.

Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra
Depois a flor, depois o suspirado pomo.

Pois essa criatura está em toda a obra: 
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto
E é nesse destruir que as suas forças dobra.

Ama de igual amor o poluto e o impoluto
Começa e recomeça uma perpétua lida
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a morte; eu direi que é a vida.

Machado de Assis