Em todas as almas há coisas secretas
cujo segredo é guardado até à morte delas.
E são guardadas
mesmo nos momentos mais sinceros
quando nos abismos nos expomos
todos doloridos
num lance de angústia
em face dos amigos mais queridos
porque as palavras
que as poderiam traduzir seriam ridículas
mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz.
Estas coisas são materialmente impossíveis
de serem ditas.
A própria Natureza as encerrou
não permitindo que a garganta humana
pudesse arranjar sons para as exprimir
apenas sons para as caricaturar.
E como essas ideias-entranha
são as coisas que mais estimamos
falta-nos sempre a coragem de as caricaturar.
Daqui os «isolados» que todos nós
os homens, somos.
Duas almas que se compreendam inteiramente
que se conheçam saibam mutuamente
tudo quanto nelas vive
não existem.
Nem poderiam existir.
Mário de Sá Carneiro
No dia em que se compreendessem totalmente
- ó ideal dos amorosos! -
eu tenho a certeza que se fundiriam numa só.
E os corpos morreriam.
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