Vagando em versos

domingo, 8 de outubro de 2017

Ao Amor antigo



O amor antigo vive de si mesmo
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor
e resplandece no seu canto obscuro
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário: