Vagando em versos

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Quando a morte vier, meu amor



Quando a morte vier, meu amor, 
fechemos os olhos para a olhar por dentro 
e deixemos aos nossos lábios o murmúrio 
da palavra branda jamais pronunciada 
e às nossas mãos a carícia dispersa; 
relembremos o dia impossível, 
belo por isso e por isso desprezado, 
e esqueçamos o que nos não deixaram ver 
e o resto que sobrou do nada que possuímos; 
deixemos à poesia que surge 
o pranto de quem a trocou para comer 
e os passos sem rumo pelas ruas hostis; 
deixemos à carne o que não alcançámos, 
e morramos então, naturalmente... 

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